Torneo Semana Santa e Maestro Ronald Cantero
Às vésperas do tradicional “Torneo de Semana Santa” no Paraguay, deparei-me com interessante crônica de outro Ronald, o ex-campeão brasileiro Ronald Câmara, no delicioso livro “Peões na Sétima” (Imprensa Universitária do Ceará,1960).
Recordou-me com carinho da figura singular do antigo maestro paraguayo, hoje ao lado de Caíssa, que tive o prazer de conhecer pessoalmente, maestro Ronald Cantero.
Era pequeno e magrinho, mas sua figura parecia se agigantar pelo respeito e admiração que todos lhe prestavam e, sobretudo, quando pegava no microfone para os discursos, seus inflamados e longos discursos....
Maestro Cantero era bom de papo, um autêntico carioca, tendo vivido muito tempo no Brasil, sendo talvez o primeiro paraguayo a viver de xadrez, por assim dizer, em terras locais.
Era aguerrido, mas muito leal. Meu ilustre amigo Sr. Nicolau César, lá de Mogi das Cruzes,(saudades meu velho!) contou-me uma passagem com ele, bem parecida com a crônica que transcreverei mais à frente.
Certa vez num dos inúmeros torneios blitz do Clube de Xadrez S.Paulo, lá pela década de 60, jogando contra o maestro Cantero este tocou numa peça cujo movimento seria catastrófico; meu amigo disse a ele que poderia jogar outro lance, afinal era primeira rodada e teriam o torneio todo pela frente. Mas Cantero fez questão de jogar com a peça tocada e perdeu a partida lances depois.
Nas cerimônias de abertura ou entrega de prêmios, o silêncio respeitoso de todos fazia ecoar suas palavras emocionadas, lembrando fatos passados ou incentivando uma grande luta, “ganas de vitória, siempre!” e se dirigindo sempre aos jogadores mais jovens. Saudades maestro Cantero!
A seguir, vou transcrever o capítulo “ A Expressão Salvadora”, do citado “Peões na Sétima”, Ronald Câmara.
“A cena ocorreu na 11ª. Rodada do “III Torneio Zonal Sul-Americano”, realizado no Rio de Janeiro, em agosto de 1957. Jogavam o franzino paraguaio Ronald Cantero e o robusto argentino Alfredo Espósito.Ainda na fase da abertura, na altura do 14º lance, Espósito levantou-se para apreciar o desenrolar das outras partidas, enquanto se antagonista meditava. Após refletir alguns instantes, Cantero segurou o seu Bispo da Dama, situado em 3TD, decidido a movimentá-lo, quando verificou que este lance comprometeria irremediavelmente a sua partida, causando-lhe a perda de valioso material, sem a menor compensação. Imediatamente, retirou a mão, na esperança de que seu furtivo gesto tivesse passado despercebido. Espósito, porém, embora afastado, acompanhara, de soslaio, todo o movimento de seu adversário e, lesto, encaminhou-se para o tabuleiro, exigindo a execução da jogada que lhe asseguraria, incontinente, o ganho fácil de uma qualidade, mediante C6C xeque.Alegando que tocara na peça inadvertidamente, Cantero recusou-se a fazer a continuação exigida, dando margem à interrupção da partida, e consequentemente, tornando necessária a interferência dos juízes, fiscais e demais jogadores, criando, ao mesmo tempo, um clima de “suspense” em toda a platéia.A opinião geral era desfavorável ao paraguaio. Somente o líder do torneio, o jovem grande-mestre Oscar Panno, numa atitude louvável e desinteressada, achava que a reclamação de seu compatriota só teria cabimento se ele estivesse no tabuleiro no momento da ocorrência.Enquanto isto, o eficiente chefe da delegação portenha, para garantir o direito de seu comandado, citava enfáticamente o conhecido truísmo enxadrístico: “Peça tocada, peça jogada!”Por fim, a exigência de Espósito foi considerada procedente e Cantero, com um semblante desolado ante tão cruciante alternativa, realizou o malsinado lance. Momentos depois, ainda visivelmente transtornado, saiu para espairecer, dirigindo-se para este cronista que se encontrava acompanhado do médico cearense, há muito radicado no Rio de Janeiro, Dr. Afrânio de Alencar Matos, declarando-nos, num incontido desabafo:“Pero, no negue lo que hice, arrostando las consecuencias”.Esse ilustre médico, que é também um fervoroso enxadrista, prontamente respondeu-lhe: “A celeuma suscitada pelo incidente não lhe permitiu encontar uma saída que solucionaria satisfatóriamente o seu caso”.“Como”?, indagou-lhe curioso o paraguauio.“Ora, era muito simples”, continuou incisivo o Dr. Afrânio. “Era bastante ter alegado que estava apenas ajeitando a peça, colocando-a devidamente no lugar, tendo, para tanto, pronunciado a consagrada expressão “J´adoube”, e uma vez que seu antagonista estava distante do tabuleiro, não poderia ter contestado esta afirmativa”.Finalizando, acrescentou – “J´adoube” era a expressão salvadora, capaz de tornar sem efeito a não menos afamada locução “Piéce touchée, piéce jouée”..... “
Na foto, flagrante da delegação paraguaia na cidade argentina de Resitência, 1º. maio de 1999.
Dentre vários notáveis do xadrez Guarany, ao meu lado, de “lentes escuras” um animado Cantero segura o pavilhão da “albi & roja”.
Por falar em Argentina, aproveito a oportunidade proporcionada pela rodada anterior das eliminatórias à próxima Copa, para desejar aos hermanos, especialmente aos bons amigos Duje, Martinez, Perdomo e Dolezal, vida longa à Maradona ( inquestionavelmente o 4º. maior rating de todos os tempos (2540), atrás apenas de Pelé (2800);Garrincha (2750) e Zico (2.700).
Que ele fique por muitos anos à frente da “celeste & blanca”....!
Saludos e “luta, siempre”!
Nos vemos em Ciudad Del Este.
http://www.winner.com.py/feparaj/PaginaNueva/Invitaciones/2009/20090325%20LANZAMIENTO%20%20SEMANA%20CIUDAD%20DEL%20ESTE.htm
Joca,
Fóz do Iguaçu, 08.4.2009
Às vésperas do tradicional “Torneo de Semana Santa” no Paraguay, deparei-me com interessante crônica de outro Ronald, o ex-campeão brasileiro Ronald Câmara, no delicioso livro “Peões na Sétima” (Imprensa Universitária do Ceará,1960).
Recordou-me com carinho da figura singular do antigo maestro paraguayo, hoje ao lado de Caíssa, que tive o prazer de conhecer pessoalmente, maestro Ronald Cantero.
Era pequeno e magrinho, mas sua figura parecia se agigantar pelo respeito e admiração que todos lhe prestavam e, sobretudo, quando pegava no microfone para os discursos, seus inflamados e longos discursos....
Maestro Cantero era bom de papo, um autêntico carioca, tendo vivido muito tempo no Brasil, sendo talvez o primeiro paraguayo a viver de xadrez, por assim dizer, em terras locais.
Era aguerrido, mas muito leal. Meu ilustre amigo Sr. Nicolau César, lá de Mogi das Cruzes,(saudades meu velho!) contou-me uma passagem com ele, bem parecida com a crônica que transcreverei mais à frente.
Certa vez num dos inúmeros torneios blitz do Clube de Xadrez S.Paulo, lá pela década de 60, jogando contra o maestro Cantero este tocou numa peça cujo movimento seria catastrófico; meu amigo disse a ele que poderia jogar outro lance, afinal era primeira rodada e teriam o torneio todo pela frente. Mas Cantero fez questão de jogar com a peça tocada e perdeu a partida lances depois.
Nas cerimônias de abertura ou entrega de prêmios, o silêncio respeitoso de todos fazia ecoar suas palavras emocionadas, lembrando fatos passados ou incentivando uma grande luta, “ganas de vitória, siempre!” e se dirigindo sempre aos jogadores mais jovens. Saudades maestro Cantero!
A seguir, vou transcrever o capítulo “ A Expressão Salvadora”, do citado “Peões na Sétima”, Ronald Câmara.
“A cena ocorreu na 11ª. Rodada do “III Torneio Zonal Sul-Americano”, realizado no Rio de Janeiro, em agosto de 1957. Jogavam o franzino paraguaio Ronald Cantero e o robusto argentino Alfredo Espósito.Ainda na fase da abertura, na altura do 14º lance, Espósito levantou-se para apreciar o desenrolar das outras partidas, enquanto se antagonista meditava. Após refletir alguns instantes, Cantero segurou o seu Bispo da Dama, situado em 3TD, decidido a movimentá-lo, quando verificou que este lance comprometeria irremediavelmente a sua partida, causando-lhe a perda de valioso material, sem a menor compensação. Imediatamente, retirou a mão, na esperança de que seu furtivo gesto tivesse passado despercebido. Espósito, porém, embora afastado, acompanhara, de soslaio, todo o movimento de seu adversário e, lesto, encaminhou-se para o tabuleiro, exigindo a execução da jogada que lhe asseguraria, incontinente, o ganho fácil de uma qualidade, mediante C6C xeque.Alegando que tocara na peça inadvertidamente, Cantero recusou-se a fazer a continuação exigida, dando margem à interrupção da partida, e consequentemente, tornando necessária a interferência dos juízes, fiscais e demais jogadores, criando, ao mesmo tempo, um clima de “suspense” em toda a platéia.A opinião geral era desfavorável ao paraguaio. Somente o líder do torneio, o jovem grande-mestre Oscar Panno, numa atitude louvável e desinteressada, achava que a reclamação de seu compatriota só teria cabimento se ele estivesse no tabuleiro no momento da ocorrência.Enquanto isto, o eficiente chefe da delegação portenha, para garantir o direito de seu comandado, citava enfáticamente o conhecido truísmo enxadrístico: “Peça tocada, peça jogada!”Por fim, a exigência de Espósito foi considerada procedente e Cantero, com um semblante desolado ante tão cruciante alternativa, realizou o malsinado lance. Momentos depois, ainda visivelmente transtornado, saiu para espairecer, dirigindo-se para este cronista que se encontrava acompanhado do médico cearense, há muito radicado no Rio de Janeiro, Dr. Afrânio de Alencar Matos, declarando-nos, num incontido desabafo:“Pero, no negue lo que hice, arrostando las consecuencias”.Esse ilustre médico, que é também um fervoroso enxadrista, prontamente respondeu-lhe: “A celeuma suscitada pelo incidente não lhe permitiu encontar uma saída que solucionaria satisfatóriamente o seu caso”.“Como”?, indagou-lhe curioso o paraguauio.“Ora, era muito simples”, continuou incisivo o Dr. Afrânio. “Era bastante ter alegado que estava apenas ajeitando a peça, colocando-a devidamente no lugar, tendo, para tanto, pronunciado a consagrada expressão “J´adoube”, e uma vez que seu antagonista estava distante do tabuleiro, não poderia ter contestado esta afirmativa”.Finalizando, acrescentou – “J´adoube” era a expressão salvadora, capaz de tornar sem efeito a não menos afamada locução “Piéce touchée, piéce jouée”..... “
Na foto, flagrante da delegação paraguaia na cidade argentina de Resitência, 1º. maio de 1999.
Dentre vários notáveis do xadrez Guarany, ao meu lado, de “lentes escuras” um animado Cantero segura o pavilhão da “albi & roja”.
Por falar em Argentina, aproveito a oportunidade proporcionada pela rodada anterior das eliminatórias à próxima Copa, para desejar aos hermanos, especialmente aos bons amigos Duje, Martinez, Perdomo e Dolezal, vida longa à Maradona ( inquestionavelmente o 4º. maior rating de todos os tempos (2540), atrás apenas de Pelé (2800);Garrincha (2750) e Zico (2.700).
Que ele fique por muitos anos à frente da “celeste & blanca”....!
Saludos e “luta, siempre”!
Nos vemos em Ciudad Del Este.
http://www.winner.com.py/feparaj/PaginaNueva/Invitaciones/2009/20090325%20LANZAMIENTO%20%20SEMANA%20CIUDAD%20DEL%20ESTE.htm
Joca,
Fóz do Iguaçu, 08.4.2009
2540 pro Maradona ???? É muito ... no maximo 2400, tem muita gente nelhor que ele e nao me venha falar que ele tem titulo de GM, no maximo de MI,caindo pra MF. GM tem um só: Edson Arantes do Nascimento.
ResponderExcluirParabens pelo blog.
Abraços
Concordo com o Janderson.O Maradona, no contexto geral da História do Futebol, foi apenas um GM regular.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirJoaquim estou aqui para agradecer a citação de meu humilde nome em seu blog,confesso fiquei lisongeada com suas sábias palavras. Só esqueceu de postar o tal "pneu furado" do carro do Denrick srsrsr e se não fosse por mim e minha amiga passar por vcs em plena meia noite..estariam com o tal pneu furado ainda. rsrsrs.Bom a cidade não preparou nada de especial para recepcioná-los ,mas espero que eu juntamente com minhas duas amigas possamos ter suprido um pouco esta necessidade. Esperamos por vc e toda galera por aqui em breve mas desta vez para um passeio agradável.
ResponderExcluirBjus da Fernanda Lage